A crise é à prova de crise
O estudante que cumpre todos os seus deveres e mesmo assim não atinge os objectivos não é bom aluno. É burro. Portugal é burro. Esta é a dura realidade
O grande derrotado da crise política portuguesa é, como creio que toda a gente já percebeu, Stephen Hawking. O cientista inglês sempre se mostrou muito céptico quanto à hipótese de viajar no tempo, mas Cavaco, com muito menos conhecimentos de Física, demonstrou que é possível. Neste momento, estamos exactamente no mesmo ponto em que estávamos há duas semanas. H. G. Wells também deve estar a sentir-se bem estúpido. As máquinas do tempo são inúteis. Basta fazer dois discursos.
Voltar atrás no tempo é uma variação de voltar atrás com a palavra. O compromisso de salvação nacional falhou, e nesse caso há que retroceder até ao momento em que a necessidade de salvação já estava iminente, mas em que a perdição ainda não tinha começado.
Portanto, e recapitulando: demitiu-se o ministro que era o principal responsável pela política do governo, reconhecendo que a política falhou. Depois, demitiu-se outro ministro em protesto pelo facto de a substituta do outro ministro constituir uma solução de continuidade das políticas que tinham falhado. A seguir, o primeiro-ministro recusou a demissão deste último ministro, que ainda assim faltou ao conselho de ministros por se considerar demissionário. É fácil perceber a razão pela qual a salvação nacional parecia necessária. Mas é muito difícil perceber a razão pela qual deixou de ser.
A crise política criada pelo governo resistiu à crise política criada pelo Presidente da República, e também por isso o nosso país deveria aproveitar esta encruzilhada para reflectir na sua situação escolar. A Grécia não cumpriu as medidas impostas pela troika, e por isso não atingiu as metas previstas. Portugal cumpriu as medidas impostas pela troika, e mesmo assim não atingiu as metas previstas.
Os gregos não têm aproveitamento porque são maus alunos. Portugal é bom aluno e falha na mesma. O que, na verdade, significa que Portugal não é bom aluno. O estudante que cumpre todos os seus deveres e mesmo assim não atinge os objectivos não é bom aluno. É burro. Portugal é burro. Esta é a dura realidade. Os gregos sempre têm a desculpa de se estarem borrifando para o programa.
Nós cumprimos, e mesmo assim chumbamos.
Temos a pior parte de ser bom aluno e a pior parte de ser mau. Não temos nenhuma das boas. Nem atingimos os objectivos, como os bons alunos, nem engatamos as miúdas problemáticas, como os maus. Alguma coisa tem de mudar, e Portugal tem de assumir clara e integralmente um destes estatutos, qualquer que ele seja, uma vez que atingir objectivos é agradável, e as miúdas problemáticas costumam ter uma moral sexual um pouco mais frouxa.
Ricardo Araújo Pereira
9:29 Quinta feira, 1 de Agosto de 2013 |