Nos últimos anos, tem-se verificado uma progressiva passoscoelhização da sociedade portuguesa, sem que a sociologia tenha registado o fenómeno. Um dos sintomas da passoscoelhização da política é a descontracção com que se olha para o desemprego. O Passos Coelho típico não tem, antes de chegar ao poder, mais do que um ou dois empregos relativamente fictícios, e por isso consegue pensar no emprego dos outros como se também fosse uma fantasia. E quem fica sem uma fantasia, na verdade, não perde grande coisa. Igualmente fantasiosas, para o passoscoelhismo, são as reformas, dado que quem nunca trabalhou não sabe o que significa descontar durante a vida inteira, e é por isso que hoje se diz aos reformados que as reformas não existem com a mesma indiferença e até com a superioridade de quem informa uma criança de que o pai natal não existe. in Ricardo Araújo Pereira| -